Serrubico (2)

Avatar de António Cabral
Créditos:

As crianças dispõem-se como no Serrubico (1). A primeira lengalenga é a seguinte:

Serrubico, bico, bico,
quem te deu tamanho bico?
Foi o padre Zé João (ou Sebastião)
que reza a missa a tostão (ou ao balcão).

As mãos, então, dispõem-se com as palmas voltadas para cima, e o menino em quem recai a última sílaba diz, passando a mão pelas dos companheiros:

Varre, varre,
vassourinha.
Se varreres bem,
dou-te um vintém;
se varreres mal,
nem um real.

Em seguida, aquele em quem recai a última sílaba pronuncia a fórmula:

Sola, sapato,
rei, rainha.
Vai ao mar
buscar sardinha
para a filha
do juiz
que ‘stá presa
p’lo nariz.
Os cavalos
a correr,
as meninas
a aprender.
Qual será
a mais bonita
que se irá esconder?

O elemento que pronuncia esta fórmula vai tocando com a mão, sucessivamente, na cabeça de cada um dos circunstantes. Aquele em quem calhar a última sílaba vai esconder-se. Sem que este ouça, os do grupo escolhem para cada um (incluindo aquele) o nome de uma fruta (ou outro objecto qualquer). Escolhem, simultaneamente, a pena correspondente que o escondido irá cumprir – trazer às costas, ao colo, etc. Pergunta, então, um do grupo:

– Em que queres vir?

– No melhor que lá houver – diz a criança que se escondeu.

Do grupo vão nomeando as frutas (ou quaisquer objectos) escolhidas, até que o escondido prefira uma. Se preferir a fruta que lhe corresponde, terá de vir a pé; se indicar outra, o que lhe corresponde cumprirá a pena.

Em Castedo, a primeira e a terceira lengalengas são assim:

Serrubico mandanico (ou serrubisco mandanisco),
quem te deu tamanho bico?
Foi Nosso Senhor Jesus Cristo.
E os de ouro e os de prata
e os que luzem na buraca.

Sola, sapata, rei, rainha.
Põe o pé
na pampolina.
E o rapaz
que jogo faz?
Manda a velha
esconder
debaixo da cama
D. Inês
de Castro.

Em Guiães e Vila Real ouvi:

Serrubico, bico, bico,
quem te deu tamanho bico?
Foi a velha chocalheira
que anda lá pela ribeira,
a apanhar os ovinhos de perdiz
para a filha do juiz
qu’stá presa p’lo nariz.
Três cavalos a correr,
três meninas a aprender.
Qual será a mais bonita
que se irá esconder?

Sola. Sapata,
rei, rainha.
Põe o pé
na pampolina.
O rapaz
que jogo faz?
Faz cartas
sobre cartas,
debaixo da cama
de D. Inês
de Castro
e canastro.

(vide Chorro Morro, Varre, Vassourinha e lengalengas várias).