Jogo típico de Carnaval, também conhecido pelo nome de Casamentos.
Entre as 22 horas e a meia-noite de Terça-Feira Gorda colocam-se alguns rapazolas em pontos fronteiros, geralmente dois montes, entre os quais fica a aldeia. De cada um dos lados fala-se alto e em regra por um grande funil. As falas incidem, quase sempre, sobre as raparigas casadoiras e as solteironas, tratando-se os que falam por compadres. Por exemplo:
– Ó compadre?
– Que é lá?
– Vamos casar a Joaquina da Eira?
– Pois vamos: já são horas de ela ir à igreja. Até se dizem praí umas coisas.
– Então com quem a havemos de casar?
– Olha: casamo-la com o macho velho do tio Augusto.
O noivo neste caso é uma invenção jocosa, mas pode ser um rapazinho galante ou outro qualquer.
O diálogo dá por vezes origem a zaragatas, como é de prever. As Pulhas usavam-se muito no Alto Douro, mas estão a cair e desuso, de ano para ano. Registe-se que a palavra pulha tem, entre outros, o significado de gracejo.
Na zona de Lamego chama-se a este jogo cabaçadas e aos que falam cabaceiros. E em certas aldeias o costume é próprio da noite de S. João, o santo casamenteiro (Lamares, Valnogueiras e Sanguinhedo – Vila Real). Em Torre de D. Chama (Mirandela) o dia escolhido é o de Serrar a Velha, a meio da Quaresma, e os versos de abertura são:
Palhas alhas leva o vento.
Aqui se faz este casamento.
Em Urros (Moncorvo) a tradição mantém-se no Carnaval. Os casamenteiros tratam-se por camaradas e o povo chama ao diálogo gasnadas (de grasnadas) e gasnadores aos interlocutores. O meio de levar a voz mais longe é quase sempre o funil; daí que, em alguns lados, como Sanguinhedo, o jogo tenha a designação de Funis. Enquanto decorrem os casamentos, são lançadas frequentemente bombas de Entrudo, chegando a ouvir-se tiros de pistola, a sublinhar os gracejos. Gracejos que, não raro, transbordam do tema do casamento e causticam a vida privada das pessoas. Em alguns lugares do concelho de Armamar os casamentos são seguidos daquilo a que chamam deixas (dotes) e realizam-se nas noites de quinta-feira que precedem os domingos Magro e Gordo.
Uma referência final a Sousa Costa que faz uma interessante descrição das pulhas usadas no Douro (Horta do Ferrão), no seu romance Ressurreição dos Mortos (Porto, 1955).