Queima do Entrudo

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Queima do Entrudo em Podence por Inês Ribeiro
Créditos:

Cerimónia semelhante à do Pai da Carne. O Entrudo é uma figura grotesca, com armação interior e enfeites a gosto, sobressaindo o falo. Na noite de Entrudo queima-se num largo da localidade, após a leitura do testamento (deixo…), em versos picantes, alguns alusivos à política local. Em certos lugares suspendem-no de uma árvore, a dar uma ideia de Judas, e põem-lhe bombas dentro para o desfecho ser mais espectacular. Das aldeias o uso tran­sitou para bairros citadinos, onde predomina gente de modesta condição. É o que acontece no Bairro de S. Vicente de Paula, em Vila Real: a designação em cartaz é de Enterro do Carnaval, mas este é queimado, após um desfile em que também as mulheres se incorporam, atrás do féretro, à luz dos archotes e ao ruído de bombos, lamentações e risinhos facetos.

É de citar Gaston Bachelard: “O fogo sugere o desejo de mudança, de forçar o correr do tempo.” O devaneio suscitado pelo apelo do braseiro determina aquilo a que o filósofo fran­cês chama o complexo de Empédocles em que se unem “o ins­tinto de viver e o instinto de morrer”. Estas palavras têm aplicação no Pai da Carne e, de uma maneira mais clara, *Serração da Velha*.

Notas

BACHELARD, Gaston – A Psicanálise do Fogo. Lisboa : Estúdios Cor, 1972.