Corrida de Caracóis

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Num Verão dos anos 50, o padre Adolfo Magalhães anun­ciou no Vidago, onde era pároco, uma corrida de caracóis. Os aquistas daquela estância termal acorreram em grande número ao salão do hotel onde o feito ia realizar-se.

Muito simples. Em cima de uma mesa, o padre fantasista e bem humorado colocou dois caracóis esfomeados, à distância de cerca de dois palmos um do outro, plantando-lhes a meio uma fresqui­nha folha de hortaliça. Os mirones afilaram o nariz, na expectativa. E a verdade é que os caracóis acabaram por se desenroscar, ten­táculos à coca, radar guloso, e iniciaram a corrida que, para gáu­dio dos circunstantes, teve um vencedor e um vencido. Um jogo de soma zero, como conspicuamente diz a teoria dos jogos que tanto se aplica às matemáticas como aos vorazes caracolitos.

Palmas para os moluscos gastrópodes pulmonados – para os dois, vencedor e vencido, pois ganhar e perder é jogo, ora! E pal­mas também para o engenhoso rival de Skinner que divertiu a mal­tósia por um quarto de águas.

Se é verdade que exempla trahunt então, senhores leitores, vejam se são capazes de organizar uma corrida de caranguejos ou de borboletas. E, se de algum encorajamento lhes serve a notícia que tenho na manga, sempre lhes digo que, de acordo com as pre­visões de um biólogo meu amigo, está prestes o dia em que se vai organizar uma corridinha de cromossomas para saber na hora tanto a cor dos olhos como o sexo do nascituro.