Adivinhas

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Uma das formas mais curiosas de jogar com palavras e con­ceitos são as adivinhas. O seu poder de atracção, comum a todos os enigmas, consiste em enredar elementos num desafio à imaginação e à argúcia que têm de os fazer convergir num ponto ante­cipadamente concebido pelo perguntador. A adivinha recorre à linguagem obscura e ambígua, frequentemente metafórica, o que dificulta a decifração. Um modelo célebre é o enigma posto a Édipo pela Esfinge, junto de Tebas, nos tempos míticos do antigo Egipto, segundo a mitologia grega.

– Qual é o animal que ora tem dois pés, ora três, ora quatro, e é tanto mais fraco quanto mais pés tem?

Como Édipo respondesse que é o homem na idade madura, na velhice e na infância, a Esfinge, ferida na sua arrogância, despe­nhou-se no vale próximo, morrendo despedaçada, segundo uma das versões do mito. E Édipo salvou-se de ser devorado como os viandantes que o tinham precedido. A versão popular da famosa adivinha é:

– Qual é o animal que de manhã anda em quatro pernas, à tarde em duas e à noite em três?

As adivinhas portuguesas são numerosíssimas, apresentando algumas variantes e sendo outras comuns a diferentes línguas. A que se segue é muito conhecida: começa por fazer uma insinuação tornada desconcertante pelos versos finais. É a biplanea­ridade lúdica: um plano contraposto a outro.

Alto está,
alto mora,
todos os vêem,
ninguém o adora.

Por vezes, sugere-se a existência de objectos diferentes ou joga-se com a tentativa de iludir o sujeito interrogado, desviando-lhe a atenção para aquilo que se afigura como mais provável.

– Qual é a coisa, qual é ela que mais se parece com a metade de um queijo?

– O que é que está no meio do mar?

Nos três últimos exemplos, as respostas pretendidas são: sino, a outra metade do queijo e a. A biplanearidade lúdica está pre­sente, pois, quanto ao sino, insinua-se a relação com Deus; no segundo caso, a tendência é buscar a semelhança num objecto diferente; e a questão do mar parece remeter para o plano da realidade objectiva, quando a intenção reserva o plano simbólico­-verbal.