O jogo popular tem de entender-se como fenómeno cultural e não como desporto ou forma tosca e ou preparatória deste, como se estivesse ainda em definição. Certo é que uma boa parte das modalidades desportivas provém das populares, como por exemplo o Hóquei e o Disco. Mas isso só prova a riqueza da cultura popular, as enormes virtualidades que encerra. No caso do Hóquei e do Disco, refinaram-se e estandardizaram-se as estruturas, com o estabelecimento de um código rígido. Mas o Pino, que deu origem ao Hóquei (Pino que tinha outros nomes noutros países e jogar-se-ia na Pérsia e no Egipto antigos) e o Malhão que deu origem ao Disco (popular na antiga Grécia) continuam a jogar-se com diferenças regionais que são elementos definidores de cultura. Por outro lado, há jogos populares que dantes eram formas desportivas da predilecção dos nobres, como por exemplo a Choca, em Portugal, e o Mail, em França, embora seja improvável que tais jogos não tivessem antepassados populares. Os Bilros (Bola, Paus, Paulitos, etc.) vêm da antiguidade e deram origem ao Bowling. A valorização do desporto não deve arrastar atrás de si a desvalorização do jogo popular e vice-versa.
in CABRAL, António – Jogos populares portugueses de jovens e adultos. 3.ª ed. Lisboa : Notícias, 1998. ISBN 972-46-0924-3.